Season 6, Episode 5: Chamas
Dan sentia-se muito estranho.
Ele tinha certeza de que estava desacordado. Devia ser essa a sensação de ver a própria casa pegar fogo.
Mas, ao mesmo tempo, ele estava numa condição muito parecida com um sonho lúcido. Podia sentir que estava ali, de pé, mas a sua visão estava turva.
Pensou na mãe. A velha e bondosa Olivia. Lembrou-se do que tinha sido sua vida no passado. Lembrava-se de jogar basquete com os amigos, de tomar surras dos valentões da rua, das primeiras paixões.
Olivia fizera de tudo para protegê-lo. Ela, que sempre havia sido uma mulher de paz, havia desenterrado o rifle do falecido marido. Tinha destruído a cabeça do primeiro Walker que tinha chegado perto demais de Dan. Fez muitas outras vítimas, mas sempre procurou ajudar a todos.
Quando eles finalmente chegaram a Dreamland, Dan teve a sensação de que sua mãe estava satisfeita. Ele estava seguro agora. Cresceu. Tornou-se um homem grande, bonito, saudável. E ela foi ficando cada vez menor, abatida, cansada. Mas Dan nunca deixou de ver a mãe com os olhos de criança.
E, agora, ao imaginá-la gritando pelo filho, queimando na cidade que tinha buscado com tanto afinco, ele sentiu o coração bater mais rápido. Achou que estava tendo um infarto.
Infelizmente, Dan Luna sabia que não sentiria o doce beijo da morte nesse dia.
Aiden e Mellanie fizeram o possível para socorrer Dan, mas Jock continuou parado, olhando para o fogo.
Aquele fogo...
Ele se lembrou do dia em que Phinn e ele tinham feito o primeiro churrasco. Eram dois bobões, quase incendiaram a floresta. Mas a carne ficou decente. Phinn tinha dito que era um grande churrasqueiro.
Jock colocou as mãos sobre o peito coberto com o casaco.
"Phinn... Phinn..." As palavras ressoavam em sua mente como um gongo ressoa no salão de um palácio. Ele tinha dito a si mesmo que tinha superado a morte do irmão. Deus, ele tinha impedido Shane de tentar suicídio. Pensava que era maior que isso.
Jock subestimou seu emocional. Pensou em Phinn mais uma vez, deu um suspiro prolongado, e puxou o fuzil da bandoleira, destravando-o.
"A gente tem que cair fora daqui." Disse ele, abrindo os olhos lentamente. Dan parecia estar levantando, ajudado por Mellanie. "Não tem nada que possamos fazer."
"Talvez ainda hajam sobreviventes..." Disse Mellanie, olhando pra trás enquanto se esforçava para levantar Dan.
"Não, ele está certo." Disse Aiden, hesitante.
Detestava fogo desde criança.
As crianças da sala a chamavam de "Fogueira". "Foguinho". "Fogosa", o que deveria ser deveras engraçado. Foi assim que ela cresceu; Em meio a apelidos.
Até chegar na idade em que eles começaram a fazer mais que isso.
Mellanie não tinha dúvidas de que nunca teria vida fácil... Mas ela não tinha pedido pelo apocalipse. Talvez o fogo tenha reativado aquela lembrança. Ela, sentada na cama do dormitório. Segundo ano do curso de enfermagem. Olhando para aquelas pílulas na mão, esperançosa.
Bastavam três, ela sabia, para libertá-la da humilhação do dia anterior. Levar embora a culpa, levar embora a atenção interesseira que recebia. Ela não pedira por aquilo. Deus, ela nem queria aquilo.
Mas ela hesitou naquele dia. Pensou no que ainda tinha. Pensou no que poderia mudar. E daí? Aquilo não significava muito. Sabia que nunca sairia de sua mente, mas...
Jogou as pílulas fora. Hoje ela se arrependia dessa decisão. Pelo menos naquela época ela não voltaria a vida com fome de carne humana.
Aiden observou as chamas subirem e descerem, espalhando-se pela muralha de madeira como um... Bem, como um incêndio, na falta de uma comparação melhor. Fogo... Explosões... Morte...
Essas coisas sempre tinham sido parte da vida dele. Desde os tempos de fugitivo, até os tempos em que ele tentou se enganar, pensar que era um herói, até agora.
Meu Deus, ele estava com vergonha. Vergonha de não ter vindo com Dan mais rápido. Vergonha de ter deixado o grupo sair. Porra, vergonha de tudo.
Mas ele virou-se para o carro e manteve uma expressão séria.
Ninguém ali tinha nada a ver com os problemas dele. Ele era o líder, diabos; Seu trabalho era manter esse pessoal a salvo e ele já tinha falhado mais de uma vez.
Alguns Walkers já se aproximavam do fogo, atraídos pelo barulho e luzes. Aiden não ia se arriscar.
Jock entrou no carro e ligou o motor. O grupo estava fechando as portas quando o tiro atravessou bem entre as cabeças de Mellanie e Aiden, destroçando o vidro ensanguentado pelo Walker da estrada.
Ninguém estava ferido, mas o atirador ainda não tinha nem começado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário